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Leonardo Sakamoto

Troféu Frango vai para Jair Bolsonaro

Leonardo Sakamoto

09/08/2008 09h41

"O grande erro foi ter torturado e não matado."

A frase é do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), dita após seminário no Clube Militar, no Rio de Janeiro, nesta quinta, contra manifestantes do Grupo Tortura Nunca Mais e da União Nacional dos Estudantes. Segundo ele, essa teria sido a melhor solução para evitar que, hoje, pessoas perseguidas pela ditadura peçam indenização ou reclamem a justa e correta abertura dos arquivos que contam o que aconteceu na época.

(Com isso, o deputado se mostra menos "humano" que o seu colega de partido Paulo Maluf, que outrora sugeriu aos criminosos "estupre, mas não não mate". Ou que seu outro partidário Celso Russomano, que defende a redução da idade mínima para trabalho, possibilitando que crianças de 12 anos peguem no batente).

É claro que Bolsonaro (que era quase uma criança na época dos Anos de Chumbo, mas que defende a Gloriosa como se dela fosse pai e mãe) e o refugo militar da reserva (com a ajuda de alguns "estrelados" da ativa)querem que o direito à verdade e à memória permaneça enterrado em cova desconhecida junto com assassinados pela ditadura.

Fazem muito bem os ministros da Justiça (Tarso Genro) e dos Direitos Humanos (Paulo Vannuchi) defenderem publicamente o julgamento de torturadores e a revisão da Lei de Anistia. A Argentina está limpando suas feridas para que possam cicatrizar, passando por um doloroso mas necessário processo de lembrança, exposição, julgamento. O Brasil apenas tapa com gaze, achando que o tempo vai cuidar do resto. Não vai. Aquele refugo militar vai passar mas, se nada for feito, a mentalidade de que a vida humana é lixo continuará sendo passada de geração em geração. E torturar ainda será algo banal, seja em quartéis, seja em delegacias.

Quem não se lembra do senador Agripino Maia (DEM-RN) questionando o caráter de Dilma Roussef, em depoimento da ministra no Senado, por ela ter mentido diante de torturadores? Uma imbecilidade.

Criei o Troféu Frango para premiar bizarrices. Mas, se continuar assim, vou ter que mudar o nome do prêmio para Troféu Jair Bolsonaro – tamanha a quantidade de besteiras que diz o nobre deputado.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.