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Leonardo Sakamoto

Trabalhadores são libertados em terras de ex-governador de SC

Leonardo Sakamoto

02/06/2010 16h45

"Estive detido aqui por 33 dias."

A frase acima, que parece ter sido retirada de uma parede de cadeia, foi escrita por um dos 153 trabalhadores libertados de uma propriedade da São Luís Fruticultura Ltda., pertencente ao ex-governador de Santa Catarina (1982 a 1983), Henrique Helion Velho de Córdova. A fazenda foi fiscalizada pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Santa Catarina, Ministério Público do Trabalho e Polícia Federal junto com outras nos últimos dois meses no interior do Estado. A lista de irregularidades encontradas no local vai da restrição de liberdade até o não fornecimento de equipamentos de proteção individual para aplicação de pesticidas, o que colocava em risco a saúde dos trabalhadores. A reportagem completa, da jornalista Bianca Pyl, será publicada na Repórter Brasil.

Os resgatados estavam na colheita da maçã e há dois meses não recebiam salários, nem tinham dinheiro para voltar aos municípios de origem. Com a ação, os trabalhadores receberam os salários e direitos devidos e retornaram para casa, cidade como Santana do Livramento (RS), Vacaria (RS) e Três de Maio (RS). O proprietário aceitou pagar R$ 500,00 a mais para cada trabalhador como indenização e outros R$ 200 mil por dano moral coletivo, destinados a órgãos públicos ou de assistência social.

Um grupo de 12 escravos também foi flagrado em um chiqueiro desativado, entre eles dois adolescentes de 15 e 16 anos. Os empregados trabalhavam na colheita de erva-mate, em Ipumirim (SC), em terras de Odolir Canton, que fornecia para a ervateira Parra- que também foi responsabilizada pela situação. As vítimas foram trazidas de União da Vitória (PR) em uma caçamba de um caminhão e os trabalhadores dividiam o alojamento com os cavalos, um lugar com esterco, ratos mortos e água da chuva (foto abaixo). Na noite anterior à fiscalização, a temperatura mínima foi em torno dos 10º C.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.