Topo

Leonardo Sakamoto

EUA divulgam relatório sobre tráfico de pessoas no dia 14

Leonardo Sakamoto

11/06/2010 08h25

Na próxima segunda-feira (14), o Departamento de Estado norte-americano vai divulgar seu relatório anual sobre o tráfico de pessoas no mundo, que traz um diagnótico da situação por país e os classifica de acordo com o tratamento que dão ao problema. A novidade será a presença do próprio país na classificação – fato que não ocorria em versões anteriores. Informações apontam que o país deve se colocar na melhor faixa (Tier 1), daqueles que estão enfrentando como deveriam o problema.

Caso isso se confirme, será mais uma demonstração dos riscos da autocertificação. Os EUA até podem até merecer está naquela posição, mas vai ficar sempre a dúvida por conta do avaliador e o avaliado serem o mesmo. Estimativas de centros de pesquisa dos Estados Unidos apontavam, tempos atrás, a existência de pelo 17 mil trabalhadores em situação de escravidão no país. E que parte desses escravos nas terras do Tio Sam são imigrantes ilegais, muitos latino-americanos que trabalham em fazendas, em atividades que as máquinas não fazem. Semelhança com o que ocorre aqui não é mera coincidência.

É claro que há governos que ficam irritados com a divulgação do "Trafficking in Persons Report" (incluindo o nosso). Temem ficar estigmatizados, enfrentarem bloqueios comerciais ou sofrerem restrições de acesso a recursos dos EUA. Reclamam que não são apenas critérios técnicos que guiam a classificação. Ou seja, nada escaparia às necessidades da política externa do grande irmão do Norte de salvar seus amigos.

O fato é que a publicação pode ter seus defeitos, mas o debate que ela traz é importante, uma vez que o problema é internacional e apenas será resolvido com a atuação coletiva. O Brasil deve ser mantido na posição de Tier 2, grupo intermediário, apesar das políticas de combate ao tráfico e ao trabalho escravo, aqui dentro, serem melhores do que países que apareceram em anos anteriores em Tier 1. Uma mudança para baixo ou para cima será uma surpresa.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.