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Leonardo Sakamoto

O folclore das ações políticas de ano eleitoral

Leonardo Sakamoto

16/06/2010 15h27

As coisas mudam a cada quatro anos.

Não, não estou falando de Copa. Até porque a Fúria espanhola continua amarelando na hora "H", para a tristeza do meu bolão.

Mas já virou folclore o fato de a vida do brasileiro dar pequenos saltos de qualidade a cada quatro anos, sempre às vésperas de eleições gerais. Não estou dizendo que são grandes mudanças, mas candidatos e partidos aproveitam o momento para desovar pacotes de bondades para quem tem título de eleitor. Levam algumas obras ou políticas em banho maria durante três anos para, então, darem um sprint final.

É claro que o fator eleitoral pesou na decisão do presidente Lula de manter o aumento de 7,7% aos aposentados que recebem mais de um salário mínimo – aprovado anteriormente pelo governo e pela oposição no Congresso Nacional. Já apresentei aqui um rosário de razões pelas quais defendi o aumento em questão, então nem vou entrar no assunto. Mas ele deveria ter ocorrido de forma mais significativa nos anos anteriores (esse é o maior aumento real desde 1995) e não apenas neste, como quis o Congresso e o presidente.

E não é só em âmbito federal. Por exemplo, o metrô de São Paulo dá saltos a quatro anos – com a possibilidade de inaugurações em anos de eleições municipais se isso for ajudar o candidato do governador. O mesmo funciona com pontes, viadutos, Rodoanel, pista nova na Marginal…

O ideal seria que os programas de governo dos candidatos a cargos executivos viessem com cronograma de execução detalhado. Ou seja, quem quisesse ocupar cargos públicos teria que mostrar o que seria feito, quando e com que dinheiro. Evitaria que mentiras fossem contadas a rodo na propaganda política obrigatória e daria um instrumento para que a população fiscalizasse de perto as promessas de campanha. E um dos efeitos colaterais seria governantes assumirem que determinadas políticas são de Estado e não de governo. Ou seja, que sua implantação não começa e não termina em quatro/oito anos de mandato.

Mas desconfio que a maior parte dos partidos não sejam especializados em obras de não-ficção.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.