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Leonardo Sakamoto

Votação quer escolher a pior empresa do ano

Leonardo Sakamoto

20/01/2011 00h45

Qual a pior empresa do mundo em se tratando de respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente? Pergunta difícil, não é? Com tanta candidata por aí, fazendo caca no planeta, fica complicado apontar apenas uma. Mas a Declaração de Berna e o Greenpeace, ambos na Suíça, trouxeram sugestões para serem escolhidas pelos internautas. O "Public Eye Awards" (algo como o "Prêmio Vigilante Público") expõe seis empresas que, segundo os organizadores, são os casos mais escandalosos de crimes contra o ser humano e o planeta. A lista foi selecionada por um júri de especialistas a partir de um total de 30 casos sugeridos por organizações não-governamentais em todo o mundo. A premiação ocorrerá no dia 28 de janeiro, como um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado no mesmo período, em Davos, também na Suíça.

A votação vai até o dia 27 e pode ser feita, clicando-se aqui (em inglês, francês ou alemão)

Segundo os organizadores do prêmio, que existe desde 2000, a idéia é lembrar ao mundo comporativo que delitos sociais e ambientais tem suas consequências não apenas para as pessoas e áreas afetadas, mas também para a reputação de quem comete o delito. Justa ou injusta, a escolha final deve causar, no mínimo, um constrangimento a mais ao premiado.

E aqui no Brasil? Quem você sugeriria para essa lista?

A lista de candidatos do "Public Eye Awards" (Nome da empresa/Slogan criado pelos organizadores do prêmio/Breve resumo do problema, segundo o site):

AngloGold Ashanti
"Ouro. Poder. Violência."
Por destruir rios com seu projeto de mineração de ouro em Gana. Os rios secam ou morrem. Graves violações aos direitos humanos relacionados ao projeto têm sido documentados.

Axpo
"Um novo carro elétrico. Eterno. Radioativo."
A empresa suíça compra urânio da usina russa de reprocessamento Mayak, o segundo local mais contaminado com radioatividade depois de Chernobyl, para gerar eletricidade. As taxas de câncer na população local estão acima da média.

BP
"O que nós fizemos no Golfo do México irá durar para sempre. Isso é o que chamamos de sustentabilidade!"
O vazamento no Golfo do México causado pela gigante do petróleo matou 11 pessoas diretamente e vazou 800 milhões de litros de óleo no mar. Os efeitos de longo prazo não estão totalmente estimados, mas o desastre deve afetar a cadeia alimentar da região nas próximas décadas.

Foxxconn
"iSlave (iEscravo)"
A indústria de eletrônicos taiwanês Foxconn produz equipamentos de alto tecnologia para marcas como Apple, Dell e Nokia, pagando salários miseráveis. Devido ao controle da força de trabalho ao estilo militar adotado nas instalações da empresa na China, ao menos 18 empregados tentaram suicídio no ano passado.

Neste Oil
"Não há caminho mais rápido para se ver livre das florestas tropicais."
A crescente demanda por óleo de palma está relacionada a violações de direitos humanos, como deslocamentos forçados de populações locais e destruição de florestas. A Neste Oil vende a si mesma como pioneira da sustentabilidade. A companhia perdeu um processo por expropriação de terra na Malásia. A alemã Lufthansa é citada como cliente que voará com biodiesel de palma da empresa.

Philip Morris
"Cale a boca e fume. Esqueça os avisos na embalagem. Nossa marca é muito mais importante que a sua saúde"
A gigante norte-americanade tabaco pediu a arbitragem do Banco Mundial contra o Uruguai por conta de leis anti-tabagismo locais e pressiona o país a adaptar sua política de saúde aos desejos da indústria de cigarros.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.