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Leonardo Sakamoto

Varejista quer deixar americanos menos gordos

Leonardo Sakamoto

25/01/2011 03h10

De Washington – O Walmart anunciou que vai eliminar a gordura trans industrializada dos produtos embalados que a empresa vende nos Estados Unidos e cortar em 10% a quantidade de açúcar e em 25% a de sódio usados em categorias-chave de alimentos até 2015. A rede é a maior varejista do mundo.

Essas informações foram retiradas de um artigo de Ariel Schwartz, publicado no site da revista Fast Company, uma conhecida publicação progressista que trata de negócios, ética e tecnologia por aqui nos Estados Unidos. A história saiu em alguns veículos aí do Brasil na semana que passou, mas gostei de algo postado pelo autor do texto daqui. Segundo ele, o Walmart irá, com isso, resolver um problema que ele mesmo alimentou, pois de acordo com um estudo da Universidade da Carolina do Norte, de 2009, uma loja do Walmart Supercenter a mais para cada 100 mil habitantes aumenta a taxa de obesidade em 2,4% e a média do índice de massa corpórea em 0,25 pontos.

Foram consideradas como categorias-chave de alimentos grãos, carnes, lácteos, condimentos, salgadinhos e comidas prontas (para sódio) e grãos, lácteos, condimentos, sucos de frutas e frutas enlatadas (para açúcar). Para conseguir isso, é claro, terão que atuar em sua cadeia produtiva, ou seja, com seus fornecedores. Segundo a rede, se essas reformulações forem adotadas, adultos norte-americanos irão consumir 21,3 milhões de quilos a menos de sódio a cada ano – o equivalente a todo o sódio consumido pelos moradores de Los Angeles, Nova Iorque, Chicago.

Considerando que o norte-americano médio se alimenta mal para diabo, a notícia é positiva – caso seja efetivamente realizada e que não páre por aí, avançando para outros produtos. E outros países em que a empresa tenha lojas.

Por aí, apenas com muita dificuldade somos capazes de aprovar regras para anúncios publicitários de produtos gordurosos ou com muito açúcar, como a propôs a Anvisa. E olha que não estamos falando de proibição, mas sim de informação – coisa que deveria ser fornecida abertamente. Afinal de contas, o consumo em excesso de certos alimentos pode trazer riscos à saúde.

Regras assim não agradam as indústrias de refrigerantes, sucos concentrados, salgadinhos, biscoitos e de bebidas com muita cafeína, por exemplo. Ou seja, tudo aquilo que a molecada adora, mas que pode contribuir com doenças cardíacas, hipertensão, diabetes. Lembremos que a exigência de rotulagem de produtos que contenham transgênicos e a obrigação de estampar que o tabagismo mata nos maços de cigarro também foram alvo de furiosas reclamações por parte de algumas empresas e associações.

Quando alguma limitação à publicidade de produtos é baixada, há sempre um grupo que brada ser esse ato um atentado à liberdade de expressão. Mas, ao usar essa justificativa, o que acaba defendendo é o direito de ficar em silêncio para não se expor diante da sociedade. O problema é que essa omissão de informações acaba sendo um atentado contra a liberdade de escolha. Como é possível decidir se não há informação suficiente?

Como já disse aqui um milhão de vezes, comprar é um ato político, pois ao adquirir um produto você dá seu voto para a forma através da qual uma mercadoria foi fabricada e mesmo o que ela representa. Seria importante, por exemplo, que as mercadorias viessem com informações sobre sua origem e com o que foram feitas. Dessa forma, o consumidor poderia decidir se vai considerar apenas fatores como o preço ou a estética, ou vai levar para casa um produto que não faz mal a seus filhos. Ou irá se atentar, na hora de comprar, para elementos como desmatamento, trabalho escravo, ocupação ilegal de territórios indígenas, que parecem distante, mas estão coligados com seu bife ou sua camisa pelo ato da compra.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.