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Leonardo Sakamoto

O sem-teto, a cara-pintada e o sinal fechado

Leonardo Sakamoto

13/02/2011 09h58

Conversas de semáforo tendem a ser objetivas. Por vezes, produzem hai cais da urbanidade. Não é este o caso, narrado por um advogado ao blog, o que não exclui o fato de haver certo lirismo presente nele.

Em uma esquina movimentada de São Paulo, caras-pintadas abordavam os veículos:

– Oi, tudo bem? Você poderia me dar uma moedinha. Eu passei.

Vendo a cena, um morador de rua que também fazia ponto naquele local, provido de uma ironia deliciosa, achegou-se:

– O senhor também poderia me dar uma? Eu também passei. Passei fome, passei frio, passei necessidade…

Dar dinheiro alegremente – quiçá projetando-se no outro a fim de reviver um saudoso momento e participar de um rito comum à sua classe social – ou de forma constrangida – por ter melhores condições em um país extremamente rico e proporcionalmente desigual e se sentir obrigado diante da circunstância no semáforo, sem contar o efeito de sentimentos nobres como a dó, e ser chamado na chincha?

Qual foi o desfecho? Nem te conto. Fica mais interessante que cada um termine a história do seu próprio jeito. Se bem que eu arriscaria dizer, se o mundo fosse maniqueísta, para qual lado a balança penderia…

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.