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Leonardo Sakamoto

A crise nuclear no Japão e nossa política energética

Leonardo Sakamoto

13/03/2011 02h24

O Brasil deve construir mais quatro centrais nucleares nas próximas duas décadas. Disputam recebê-las os Estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, banhados pelo velho Chico, que poderia fornecer água para a operação das usinas. Estados da região Sul também estariam no páreo. Enquanto isso, Angra 3, no Rio de Janeiro, está a caminho.

Não temos tremores de terra da magnitude dos que atingiram o Nordeste do Japão, causando danos à usina nuclear de Fukushima e levando preocupação quanto à contaminação radioativa não só da ilha, mas também dos países próximos (o fantasma de Chernobyl gosta de rondar por aí nessas horas). Contudo, por mais que tenhamos evoluído em tecnologia para prevenção de acidentes, eles acontecem. E uma vez ocorrendo, causam um impacto que pode afetar a vida de gerações.

Vale a pena investirmos nessa forma de geração de energia considerando o risco? Creio que não. Temos um imenso potencial solar, eólico, de biomassa e mesmo hidrelétrico (se planejadas e executadas de forma democrática, participativa e socialmente e ambientalmente responsável, determinadas hidrelétricas são uma possibilidade) que não é corretamente aproveitado.

Tempos atrás, o Ministério das Minas e Energia disse que ou o licenciamento ambiental de hidrelétricas saía ou a União começaria a procurar outras fontes de energia como a térmica ou nuclear. Chantagem da brava, do tipo: "ou vocês fazem o que quero ou eu atrapalho a sua vida". O Ministério do Meio Ambiente disse, na época, que tanto a energia térmica quanto a nuclear não eram opções. Pelo que se vê, são sim e estão em curso. Mesmo que usinas nucleares estejam sendo desativadas em vários países, que procuram fontes realmente limpas de energia.

Resta saber para quem destinamos o "eu te disse", fruto do "quem avisa, amigo é", quando um problema qualquer – Deus-que-me-livre-e-guarde – acontecer no futuro fruto de nossa política nuclear.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.