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Leonardo Sakamoto

Confira o ganhador do desafio ao leitor conservador

Leonardo Sakamoto

01/08/2011 12h20

Habemus papam! Com a ajuda de colegas jornalistas, escolhi o ganhador do Desafio aos Leitores.

Relembrar é viver: semana passada propus que fossem respondidas uma das duas perguntas a seguir: "Por que as posições defendidas no blog são idiotas?" ou "Por que ser conservador no Brasil hoje?"

Como previsto, muitos aproveitaram o momento para tentar destruir este maldito japonês que só escreve besteira. Até ia publicar o resultado ontem, mas segurei para hoje para dar chance de ser xingado um pouquinho mais – afinal, não é toda a hora que dá para se divertir assim.

Enviei uma mensagem para o e-mail informado pelo ganhador para que seja remetido o prêmio: os volumes de "O Capital", de Karl Marx, esse barbudo tão incompreendido. Por fim, resolvi dar uma menção honrosa a um comentário pela ironia, essa figura de linguagem tão mal compreendida, publicando-o. Parabéns ao ganhador.

Quero aproveitar e agradecer a participação de todos. Quem não ganhou, não fique triste. Haverá outra oportunidade, pois o mundo – se muda – o faz muito lentamente. Seguem os textos.

Ganhador: Carlos Baldão

"Igualdade de direitos, a liberdade, a democracia, o respeito às diferenças, o apreço pela razão, não são exclusividade da esquerda, ao contrário do que querem fazer parecer os progressistas. Os conservadores prezam tanto ou mais por todos esses valores.

É muito cômodo encher o mundo de espantalhos para depois estraçalhá-los. Essa tem sido a principal tática da esquerda para desbancar a opinião conservadora.

No entanto, para decepção dos escatologistas do progresso, um conservador não odeia pobres, negros ou gays. A melhor definição para um conservador é aquele casal de velhinhos pacatos e simpáticos do interior, que mantém valores e tradições das gerações que os precederam, praticam a política da boa-vizinhança, vão à missa e passam longe da militância política.
Esses são os raivosos ultra-direitistas?

Os valores supra-citados não só não são monopólio da esquerda, como também, via de regra são suprimidos em quaisquer medidas progressistas instituídas na prática. Para ficar em alguns exemplos: racismo institucionalizado para combater o racismo (caso das cotas). Supressão de liberdades individuais onde quer que a esquerda tenha tomado o poder. A aliança com o Islã, que, onde quer que seja a religião dominante, persegue outras religiões, mata gays e oprime as mulheres. A contradição é elemento fundamental da (i)lógica esquerdista – e nem poderia ser diferente, dada a inversão da análise histórica.

O conservador estuda o passado e aprende com ele, de modo a manter as coisas funcionando no presente para garantir o futuro.

O revolucionário (progressista) projeta um futuro imaginário e a partir do mesmo, julga o passado e se propõe a "construir" o presente.

Pelo fato de julgar o passado a partir do futuro, o progressista chega a conclusões precipitadas, como, por exemplo, acreditar que o cristianismo é uma "trava" para o desenvolvimento da sociedade – quando, na verdade, uma análise honesta da história mostra que é graças a ele que chegamos onde estamos. E que estamos bem.

A civilização judaico-cristã ocidental é a mais próspera, livre, democrática, produtiva, desenvolvida e tolerante de todos os tempos. Na verdade, o conservador não tem a menor pretensão de mudar o mundo. Atualmente, se trata muito mais de salvá-lo da destruição. É por isso, e só por isso, que o casal de velhinhos simpáticos começou a ralhar, a reagir, e com isso conquistou a infame pecha de 'reacionários'.

Paciência."

Menção Honrosa: Conservador de Casaca

"Por que esse preconceito contra nós, conservadores de corneta e fanfarra?

Sakamoto, seu comunistão, você não sabe o que é nosso medo, nosso terror de dividir as oportunidades e acabar perdendo as belas porcarias que conseguimos com nosso trabalho árduo, gerenciando nossas lojinhas de comércio, nos escritórios de médio escalão, ou mesmo no interiorzão, plantando batatas e ferrando as vaquinhas…

Temos direito a nossas óxi-loiras de chapinha, seguindo o padrão cinematográfico importado! Temos direito a nossas picapes gigantescas, embora portadores de fisiologias minúsculas! Temos direito a nossas viagens a Orlando, Noviórque e Paris!
Ultimamente até livros e Cultura nos temos comprado e consumido, pra depois citar nomes difíceis de pronunciar em blogs comunistas como o seu.

Acusam a nós, conservadores, de ultrapassados e carmomidos e que colamos nas provas da faculdade, mas nosso raciocínio e capacidade de ataque é ainda rápido, sempre mandamos o inimigo ir pastar em Cuba, Venezuela ou na Coréia do Norte. Sofisticado raciocínio, heim?

Bem, não entendemos muito o que é socialismo, porisso achamos válido afirmar que o socialismo matou 100 milhões de pessoas, não me interesso pelas vítimas do Mundo Livre por fome, subnutrição e violência social, alem de corrupção e ineficiência economica… Justamente por vivermos no Mundo Livre, pleiteamos a responsabilidade social, se aquí o cara morre de fome é porque merece, que vá trabalhar o vagabundo!

O que entendemos do mundo é aquilo que lemos na Grande Midia (precisa mais?) e nos livros da moda que ganhamos em nossos aniversários. Pra que foi que lemos alguns livros de Nietzsche, Maquiavel e Darwin? Foi a troco de quê? Não temos o direito de pinçar frases escolhidas e citar frases mal-compreendidas em blogs comunistas?

Achamos que democracia é liberdade pra tudo permanecer a mesma coisa, sempre a mesma coisa engessada que nos faz bem. Liberdade é cachorro grande comer cachorro pequeno, o mundo foi feito assim, as coisas sempre foram assim, é a ordem natural das coisas. Liberdade NÃO É, como querem alguns pobrezinhos, se apoderar do Estado. Ele nos pertence!!!"

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.