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Leonardo Sakamoto

Os quibes de Curiati esterilizaram Paulo Maluf?

Leonardo Sakamoto

24/08/2011 04h24

Criei, anos atrás, o humorado Troféu Frango para premiar bizarrices em geral – quem é leitor deste blog já está acostumado com ele. Hoje, o Frango vai para o deputado estadual de São Paulo Salim Curiati (PP):

Após ter sua casa assaltada na manhã desta terça (23), ele defendeu o controle de natalidade da população pobre como solução para a criminalidade:

"A Dilma vem falar do Bolsa Família. Aí você agracia a comunidade carente, e eles começam a ter filhos à vontade. É preciso controlar a paternidade (sic)."

Segundo noticiado através do UOL, o nobre deputado ainda citou países onde o ladrão tem suas mãos decepadas como punição, mas disse não apoiar a iniciativa. "Não sou tão radical assim."

Esse tipo de declaração facilita a vida dos jornalistas. É uma piada pronta! Discorrer sobre as toneladas de discriminação social que pesam sobre ela seria chutar cachorro morto.

Considerando que os crimes do colarinho branco e a violência física são constantes na classe política (a lista é historicamente grande: de Hildebrando Pascoal e as torturas com motosserra, passando por prefeito indiciado por chacinar fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego até incontáveis assassinatos de rivais ou líderes sociais), mais do que em qualquer outro agrupamento social, pergunto-me se Curiati concordaria com o controle de natalidade dos que são eleitos por voto popular.

Afinal de contas, a hereditariedade da política tem produzido alguns clãs que passam o poder de pai para filho, defendendo interesses particulares em detrimento a res publica. Temos exemplos notáveis no Maranhão, na Bahia, em São Paulo… Melhor, por via das dúvidas, impedir que eles fiquem se reproduzindo por aí, gerando linhagens que custam tão caro aos nossos suados impostos.

Curiati parece um homem sincero ao falar do tema. Faz sentido, portanto, imaginar se os kibes que ele levou como mimo a Paulo Maluf quando este se encontrava preso na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, em setembro de 2005, foram batizados com algum anticoncepcional ou agente esterilizante. Afinal, Maluf e seu filho estavam sendo acusados de formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Por fim, vale lembrar que membros do Partido Progressista se notabilizaram por posições um tanto quanto estranhas. Em um quadro de perguntas e respostas do programa CQC, em março deste ano, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse que um filho que fuma maconha merece levar "porrada", um pai presente e boa educação garantem que a prole não seja gay e que seus filhos eram educados e que não viveram em ambiente de promiscuidade (quando questionado o que aconteceria caso se apaixonassem por uma negra). Outra frase de efeito sua: "O grande erro foi ter torturado e não matado" – esta dita após seminário no Clube Militar, no Rio de Janeiro, em 2008, contra manifestantes do Grupo Tortura Nunca Mais e da União Nacional dos Estudantes. Maluf (PP-SP) já sugeriu aos criminosos "estupre, mas não não mate". Celso Russomano, também da área paulista do partido, chegou a defender a redução da idade mínima para trabalho, o que possibilitaria que crianças de 12 anos pegassem no batente.

Em tempo: também sou contra cortar a mão dos políticos que forem pegos em casos de corrupção. Fazendo minhas as palavras do deputado, "não sou tão radical assim".

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.