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Leonardo Sakamoto

Frases para entender o Brasil: Justiça

Leonardo Sakamoto

27/09/2011 23h54

Brasília – Este blog conta com a seção "Frases para entender o Brasil": curtas, grossas, maravilhosamente elucidativas do que faz o Brasil um brasil". E ela não pára de crescer, pois matéria-prima tem aos montes.

Tema: Justiça

"Vejo um excesso de formalização das relações de trabalho no campo."

Do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, em entrevista ao Jornal do Tocantins, nesta terça (27). Até porque, como todos sabemos, a vida do trabalhador rural é um mar de rosas e precarizar é o caminho para a solução (final). Em tempo: ele fez a feliz avaliação ao comentar, adivinhem, a escravidão no Brasil. "O que é realmente trabalho escravo deve ser combatido com rigor, mas é preciso analisar a realidade do trabalhador e do empregador na zona rural brasileira."

Assim como o Barão de Itararé , nosso ministro adora colecionar frases de efeito. Em 2009, ele afirmou que: "A profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia – nesse sentido por não implicar tais riscos não poderia exigir um diploma para exercer a profissão."

Sou contra a obrigatoriedade do diploma por razões que já expus aqui. Mas sempre achei que o jornalismo pode causar danos mais amplos e profundos do que a queda de uma ponte ou um erro médico. A incompetência, preguiça ou má fé de nós, jornalistas, pode acabar com vidas de um dia para noite (da mesma forma que a incompetência, preguiça ou má fé de digníssimos magistrados pode acabar com vidas de um dia para noite).

É claro que a Justiça do país tem dois pesos duas medidas. Ricos e poderosos, não importa a orientação política e ideológica, conseguem acesso à Justiça – seja através de um telefone-linha-direta (como aquele vermelhinho que o Batman usava com o Comissário Gordon), seja por ter recursos para pagar bons e influentes advogados. Pobre depende dos defensores públicos (importante profissão que é maltratada em muitos lugares), de Deus (se for uma pessoa de fé) ou da sorte (se não for). Como ter uma democracia de verdade dessa forma se ela é aberta e sorridente para alguns e fechada e mal-encarada para outros?

Vai ver que o problema, na verdade, é que vejo um excesso de formalização das relações de compadrio nos gabinetes.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.