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Leonardo Sakamoto

Não leve desaforo de empresa. Dê o troco

Leonardo Sakamoto

04/10/2011 18h13

Algumas empresas que ganham muito dinheiro conosco adoram nos passar a pena. Bancos, companhias telefônicas, planos de saúde… Aliás, não raro, ganham dinheiro exatamente na passada da perna.

Na maior parte das vezes, quando constatamos o engodo, reclamamos ao vento ou aceitamos bovinamente. Poucos vão atrás dos seus direitos, chegando à Justiça se necessário for. Menos ainda são aqueles que passam a apoiar ações de organizações que atuam na defesa de direitos, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, para que a desgraça não recaia sobre outro infeliz.

Cansado de ouvir reclamações, propus, tempos atrás, uma guerrilha de consumo. Ou seja, agir para reduzir os lucros dos picaretas e poupar o nosso dinheiro. Em suma, coisas que podemos fazer para ajudar a tornar um inferno a vida dos que tornam nossa vida um inferno. No limite, e agindo em conjunto, mudamos comportamentos. Se nada funcionar, pelo menos, desopilamos o fígado.

Retomo aqui algumas sugestões colhidas de amigos que trabalham em empresas que são craques em nos causar problemas.

1) Caso o seu plano de saúde negue um exame previsto no contrato (isso acontece com todo mundo a toda hora), dê o telefone do setor responsável para o seu médico e peça para ele exigir o número do registro no CRM e o nome da pessoa que está negando o pedido. Amigos médicos disseram que sempre que fizeram isso, o plano de saúde voltou atrás e enviou pouco tempo depois a autorização. Poucos são os funcionários de seguros de saúde que encarariam um processo em nome da companhia em caso de problemas decorrentes da não concessão de um exame;

2) Nem todos olham com atenção o extrato bancário e a fatura do cartão de crédito. Procurem débitos de baixo valor, de quatro, cinco centavos, escondidos em nomes estranhos. Pessoas que trabalham na administração de bancos explicam que há instituições financeiras que costumam tungar na cara dura os clientes em cobranças ilegais minúsculas. Quando são pegos em flagrante, estornam os recursos. Vocês vão dizer: "Quatro centavos, Sakamoto? Eu tenho mais o que fazer". Sim, se fosse uma moeda no chão não vale a microgordura da pança que você queima para abaixar e pegar. Mas imagine quantas contas um banco espertinho tem? E quanto ele ganha com a maracutaia todos os meses;

3) O mesmo vale para contas de telefone fixo e de celular. As companhias adoram te conectar a gente com quem você nunca falou. Peça sempre a conta detalhada e cheque. Depois de dois meses mandando erros, eles se cansam e param de "errar";

4) Aliás, falando em cartões, de tempos em tempos ligue para sua central de atendimento ameaçando o cancelamento dos cartões. Há várias promoções e benefícios que são apresentados ao cliente apenas quando ele está de saída, para convencê-lo a ficar. Todos já conhecem essa manha, mas os atendentes também. Ficou feliz com uma oferta pela isenção de anuidade e achou que arrasou? Rá! Conheço gente que conseguiu a redução drástica da taxa de juros cobrada;

5) Vá à Justiça sem pensar duas vezes. Não aceite presentinho, pedidos de desculpas, acordos que prevêem apenas a solução do problema. Exija indenização pela perda de tempo, de dinheiro, de dignidade, de humor. Não precisa ser muito, os tribunais de pequenas causas dão conta do recado. Se cada um que tomar uma na cabeça deixar de moleza e ir à luta, as coisas mudam. Peça o limite que essas instâncias prevêem, ou seja, 40 salários mínimos. Duvido que as empresas não passem a ter um pouco mais de respeito com o cidadão tupiniquim. Não porque eles não conseguirão um acordo em várias delas, mas porque terão que gastar dezenas de horas de advogados com isso. Gravem a conversa com os atendentes, da mesma forma que eles gravam a sua, e usem como prova. E se não quiser ficar com o dinheiro, há vários orfanatos e asilos que ficariam muito felizes com uma doação;

E você? Que ação já tomou para infenizar a vida das corporações que te infernizam?

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.