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Leonardo Sakamoto

Prêmio quer escolher a pior empresa do mundo

Leonardo Sakamoto

07/01/2012 12h53

O "Public Eye Awards" (algo como o "Prêmio Vigilante Público") expõe, anualmente, desde 2000, seis empresas que, segundo os organizadores, são os casos mais escandalosos de crimes contra o ser humano e o planeta. Neste ano, a lista foi selecionada por um júri de especialistas a partir de 40 casos sugeridos por organizações não-governamentais em todo o mundo, entre elas a brasileira Justiça nos Trilhos. A premiação ocorrerá no dia 27 de janeiro, como um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado no mesmo período, em Davos, também na Suíça, e é organizada pelo Greenpeace suíço e pela Declaração de Berna.

Nesta edição, a Vale – segunda maior companhia brasileira e uma das maiores mineradoras do mundo – figura entre as finalistas. Os organizadores do prêmio explicam que a empresa está envolvida em repetidos abusos contra direitos humanos, denúncias de trabalho em condições desumanas e na exploração cruel da natureza. Citam também que a empresa está participando da construcão da Usina Hidrelétrica de Belo Monte na Amazônia, que deve resultar na realocação forçada de milhares de pessoas. Os indicados também incluem o banco inglês Barclays, a mineradora norte-americana Freeport McMoRan, a Samsung, maior empresa sul-coreana, a Tepco, maior empresa de energia do Japão e a suíça Syngenta, uma das maiores empresas do setor agrícola do mundo. Informações sobre as indicações, as acusações contra cada empresa e os ganhadores de outros anos podem ser encontrados no site do Public Eye.

A votação vai até o dia 26 e pode ser feita, clicando-se aqui (em inglês, francês ou alemão). No dia 27 de janeiro, o Public Eye dará uma coletiva à imprensa em Davos, onde os ganhadores serão conhecidos. Além do indicado por votação, haverá também um escolhido por juri. O economista norte-americano e ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz dará uma palestra a respeito do papel das grandes corporações na atual crise global.

No final do ano passado, em cópia descarada do Public Eye, este blog lançou uma pergunta semelhante: Qual foi a empresa que mais desrespeitou os direitos humanos ou o meio ambiente em 2011? Mas, pondo-se no seu devido lugar, referiu-se apenas ao Brasil. Na primeira fase da enquete, foram centenas de comentários e mensagens com defesas enviadas a este blog, mas também via Twitter, Facebook ou e-mail, além de sugestões de jornalistas de política e economia a fim de escolher cinco finalistas. Na segunda fase, uma votação foi aberta com os finalistas. Enfim, no Dia Internacional dos Direitos Humanos (10 de dezembro), a enquete foi encerrada. E os leitores elegeram a Norte Energia SA (Nesa), responsável pelo empreendimento de Belo Monte a ganhadora.

A Nesa é acusada por movimentos sociais e o Ministério Público Federal de assediar e ameaçar pequenos agricultores e ribeirinhos, oferecer péssimas condições de trabalho no canteiro de obra e não realizar todas as mudanças urbanas a que se comprometeu para evitar problemas na habitação e na saúde por conta do projeto. O consórcio é formado por Eletrobras, Chesf, Eletronorte, Vale, Bolzano Participações, Caixa Cevix, Funcef e Petros.

A idéia de prêmios como esses é lembrar a todos que os impactos socioambientais oriundos da ação direta de empresas ou como efeitos colaterais do desenvolvimento econômico podem afetar muito mais do que pessoas e ecossistemas. Atingem, por exemplo, a imagem pública dos próprios envolvidos. E que, com um empurrãozinho da sociedade, corporações podem deixar de lado determinadas práticas.

Seguem os "anúncios" dos finalistas que estão circulando pelos realizadores do prêmio:

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.